Participação na Revista CEI - Cadernos de Educação de Infância, Agosto de 2010


Participação na Revista Pais & Filhos, Maio de 2010

http://www.paisefilhos.pt/index.php/familia/pais-a-m-menu-familia-58/2737-tver-ou-nao-tver-nao-e-a-questao


Como explicar a crise às crianças

Especialistas garantem que aos três anos as crianças já devem saber porque não podem ter brinquedos novos.

A crise alterou a vida de muitas crianças, mas os pais não sabem como falar dela. Pediatras aconselham a não esconder o problema. E sugerem a melhor forma de explicar aos mais novos o drama dos problemas financeiros quando eles fizerem certas perguntas.

Pai e mãe, porque é que não posso comprar o brinquedo?

"É essencial integrar as crianças nas poupanças em tempo de crise. Ou seja, fazer com que elas se sintam parte da resolução." O conselho é do pediatra Gomes Pedro. Não esconder das crianças os tempos difíceis de crise e envolvê- -las nas poupanças familiares é também a opinião do psicólogo Bruno Pereira Gomes. "Assim, elas sentem que estão a ajudar, vão sentir-se melhor, caso contrário poderiam até pensar que os problemas económicos da família são culpa delas", explica o especialista ao DN.

A psicóloga Sílvia de Jesus Coutinho defende que "convém passar a mensagem às crianças de que nem sempre vão poder comprar tudo o que querem". Adiantando que assim os mais pequenos se adaptam melhor às mudanças de circunstâncias e percebem que os pais não são nem devem ser super-heróis.

O que quer dizer isso da crise, podem explicar-me?

Conversar com as crianças não é fácil, mas Bruno Gomes sugere que os pais fujam aos discursos elaborados. O especialista diz que o melhor é um discurso simples que não assuste as crianças.

Também Sílvia Coutinho avisa que quando os filhos perguntam o que é a crise tudo deve ser explicado "numa linguagem próxima do nível de entendimento da criança". Além disso, acrescenta, não se deve "explicar coisas a mais". Basta responder às perguntas dos filhos de forma simples.

"Não é preciso forçar nada. Há que estar atento às perguntas que os filhos fazem e ir esclarecendo as dúvidas calmamente" diz Bruno Gomes, que acha ser "impossível as crianças não saberem o que se passa com a quantidade de notícias que há". Atendendo às informações, "elas, neste momento, têm medo da crise", diz.

Mas eu não sou novo de mais para saber essas coisas?

De acordo com Gomes Pedro, quando as crianças entram para a escola, "é importante que vão adaptando os conhecimentos". Mas Sílvia Coutinho considera que aos três anos as crianças começam a pedir brinquedos e é preciso dizer-lhes que não podem ter tudo. Por isso, essa pode ser uma boa idade para lhes explicar de forma simples o que é a crise.

Nestas idades, a crise pode ter um lado positivo, diz Gomes Pedro: "É nestas alturas que as crianças podem construir valores morais e aprender a partilhar." Isto é, ao compreenderem as dificuldades por que passa a família, ou outras pessoas, aprendem também elas a fazer frente aos problemas. Gomes Pedro sublinha, porém, que aos três ou quatro anos os miúdos "envolvem-se naturalmente nas fantasias".

Então e aquelas histórias todas de finais felizes não existem?

Apesar de a crise não ser uma situação agradável, Bruno Gomes defende a necessidade de as crianças imaginarem que podem ser felizes, "que o bom pode vencer".

Da mesma forma, Sílvia Coutinho também aconselha os pais a continuarem a contar histórias felizes aos filhos, pois estas dão segurança. "As histórias com final feliz dão a ideia de que tudo vai correr bem no final e isso é bom", assegura.

A psicóloga entende mesmo que estas histórias podem ajudar a falar da crise. "Os pais podem dizer que agora não podem comprar tudo, mas que no futuro tudo vai resolver-se e vão poder comprar brinquedos", exemplifica.

Importante também é que as crianças entendam o mundo à sua volta. "Os pais nunca devem ocultar a verdade. Mas é sempre mais fácil ir pelo lado negativo. Temos de pensar no aspecto positivo, explicando o lado mau", recomenda Bruno Gomes, aconselhando mesmo os pais a lerem contos de fadas para si próprios.

Para Gomes Pedro, "a criança deve saber o que é a realidade, mas claro que deve ter o seu refúgio de fantasia."


Publicado no Diário de Notícias em 06/06/2010

http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1586563

'Stress' faz disparar problemas de sono nas crianças e jovens

Número de casos que chegam aos pediatras está a aumentar. Um estudo alerta para as mudanças de comportamento e para a ansiedade que provoca nos mais novos

Luís, João e Matilde são irmãos e todos têm dificuldade em dormir. Uma situação cada vez mais frequente entre as crianças e jovens, alertam os especialistas. Na origem da falta de sono está o stress do dia-a-dia da maioria das famílias, que os mais novos também sentem.

Um estudo realizado nos Estados Unidos revela que as crianças dormem hoje menos uma hora do que há 30 anos. E que a falta de sono se reflecte na redução dos níveis de inteligência, num comportamento ansioso e até contribui para o aumento da obesidade.

"Há 15 anos não tinha tantos casos de crianças com problemas de sono", reconhece ao DN o director do Serviço de Pediatria do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, Gomes Pedro. "Actualmente, o stress nas famílias é maior", justifica o clínico. E a maior proximidade de pais e pediatras durante as consultas também ajuda a detectar mais cedo os problemas.

O tempo necessário para dormir varia de criança para criança, mas oito horas é o tempo de sono recomendável pelos médicos. 60% das crianças e jovens ouvidas pelos autores do estudo norte-americano confessaram sentirem-se sonolentos durante o dia, porque dormiam menos de sete horas por noite. O que tem consequências no seu aproveitamento escolar ou nos níveis de ansiedade durante o dia.

No caso de Luís, 20 anos, e João, de 17 anos, a falta de uma noite descansada não se repercutiu nas notas. Já Matilde, de cinco anos, deixou de ir ao infantário durante cerca de dois meses devido aos problemas de sono que a faziam acordar tarde e cansada.

"De um momento para o outro deixou de dormir. Só conseguia descansar um pouco se fosse para a minha cama e há muito que tinha perdido esse hábito", recordou ao DN a mãe, Maria José Salgueiro. Além da falta de sono, os pesadelos estragavam o pouco que conseguia dormir e, para agravar, começou a urinar com frequência.

As causas não são claras, mas quando em Novembro a família ficou doente, com suspeitas de gripe A, Matilde, sendo a mais nova, "recebeu muitos miminhos". No regresso à normalidade, a criança sentiu muito esta separação. "Começou a não querer ir para o infantário, achava que eu não gostava tanto dela, que não a queria comigo", contou a mãe. O stress de se separar da mãe terá estado na origem da falta de sono. A criança passou também a estar muito ansiosa durante o dia.

Já no caso de Luís foi a preocupação com o irmão que lhe roubou o descanso. Como filho mais velho sempre levou muito a sério o seu papel de proteger o irmão João, que é surdo profundo. "Preocupava-se com tudo. Qualquer problema faz com que durma mal. Sempre foi assim", afirmou a mãe.

João é uma situação "mais normal" entre os jovens que dormem mal. Gosta de estar bem preparado na escola e perde o sono principalmente nas alturas dos testes. Mas, tal como Luís, nunca recorreu a um médico. Afinal bastava um pouco de calma para controlar a ansiedade e conseguir dormir.

Com Matilde, Maria José Salgueiro optou por ir ao pediatra e o segredo para que a filha voltasse a dormir descansada na cama exigiu muita calma e paciência. Tanto Gomes Pedro como o psicólogo Bruno Pereira Gomes recomendam que o primeiro passo seja recorrer ao pediatra.

"Só em situações extremas é que há mesmo a necessidade de recorrer a um psicólogo. A solução para que uma criança normalize o seu sono passa pela existência de rituais, como uma hora concreta de ir para a cama", referiu ao DN Bruno Pereira Gomes.

Gomes Pedro salienta que as crianças absorvem todos os problemas familiares. E que para resolver a situação "há que reorganizar a desorganização". Por isso, é importante que os pediatras sugiram aos pais estratégias para garantir que os filhos tenham uma noite descansada (ver caixa), o que pode passar por uma simples mudança de hábitos.

A opinião é partilhada por Bruno Pereira Gomes. "Muitos pais têm problemas em se impor e as crianças vão testando os limites." Depois, há um ponto essencial: "Hoje em dia as crianças têm uma vida muito sedentária. As crianças precisam de tempo para extravasar a energia", conclui.


Publicado no Diário de Notícias em 08/02/2010

http://dn.sapo.pt/inicio/ciencia/interior.aspx?content_id=1489245&seccao=Sa%FAde

Crianças passam tempo de mais nas creches

Deco alerta que um terço fica mais de nove horas no jardim- -de-infância. Especialistas alertam para risco deste distanciamento

Ansiedade, stress e insegurança são alguns dos problemas que podem surgir nas crianças quando passam muito tempo na creche. E os dados de um estudo da Deco mostram que quase um terço está mais de nove horas nas creches. Os especialistas alertam para os riscos deste horário prolongado, mas lembram que mais importante é que o pouco tempo que os pais passam com os filhos seja um tempo de qualidade.

"A média que conheço é de dez a 12 horas por dia de estada na creche. Sete horas é o ideal", afirmou ao DN o psicólogo Bruno Pereira Gomes. O especialista considera que as creches são importantes para a socialização, mas também têm aspectos negativos: "As crianças estão muito tempo distantes dos pais. É crucial que quando estão com os filhos aproveitem ao máximo. Caso contrário, esta distância poderá resultar em crianças mais inseguras, instáveis emocionalmente, stressadas, ansiosas e menos respeitadoras."

Para Bruno Pereira Gomes "é difícil uma criança entender porque o pai não a vem buscar à creche há mesma hora que os outros". "Podem pensar que 'não gostam de mim'", referiu.

Já a pediatra Ana Serrão Neto diz que o melhor é mesmo não passar "tempo nenhum" na creche. "Até aos dois anos e meio/três é melhor ficar com familiares ou empregados de confiança", explicou ao DN. A clínica defende que a partir dessa idade e caso a criança não tenha contacto com outras, então, "por razões de socialização", a creche pode ser benéfica. "Não é desejável que sejam tantas horas, mas é a realidade", acrescentou.

Mesmo deixando os mais pequenos tantas horas no jardim-de- -infância, os pais gostavam que estes estabelecimentos fechassem as portas mais tarde e até que abrissem aos sábados. "Sei que é difícil ser pai e essa hipótese iria facilitar a vida, mas a solução não é essa. Há que pensar antes em ter melhores horários ou trabalhar mais perto de casa e reduzir o tempo gasto nos transportes públicos, por exemplo. Não podemos ter crianças a crescer sem pais", realça Bruno Pereira Gomes.

O estudo da Deco mostra também que 73% das crianças passam uma hora por dia a ver televisão nos jardins-de-infância. "Se o fazem é errado e antipedagógico. Um filme uma vez por semana é uma ideia aceitável", destacou o psicólogo.

Para Ana Serrão Neto este não é um problema, já que a televisão pode funcionar como "um estímulo visual" para os mais novos.


Publicado no Diário de Notícias em 26/02/2010


http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1505105