Relaxar para crescer

Segunda-feira: toque atrás de toque, elas correm de sala para sala. Chegado o fim das aulas, agarram na mochila, já a caminho do automóvel e disparam rumo à Natação, Ténis, Judo ou Inglês, engolindo um lanche para aconchegar...preparam-se à pressa, que o tempo voa! Finda a actividade, arrancam para casa a todo o vapor, mergulham no banho, jantam e saltam para a cama (isto nos dias calmos, nos quais não há trabalhos de casa para realizar). Amanhã será terça-feira...


O ritmo exasperante a que habituamos as nossas crianças, de forma a corresponder às exigências crescentes da sociedade imediatista em que vivemos, traduz-se em horários a full-time, em que são equiparadas a ‘mini-adultos’. O desejo natural dos pais de as dotar e capacitar de mais recursos e “ferramentas”, para enfrentar os desafios, representa um acréscimo de oportunidades para o desenvolvimento da criança. Contudo, importa considerar que a criança precisa de momentos para relaxar.


A desvalorização dos momentos de relaxamento, por parte dos pais, associada à adopção do papel de ‘mini-adulto’ pela criança; a ocorrência de mudanças familiares; situações de crise; problemas na escola entre outros, podem originar estresse, dificuldades em gerir a ansiedade, perturbações do sono, alterações do comportamento e mesmo, do desempenho académico desta.



STOP: MOMENTO PARA RELAXAR

As técnicas de relaxamento são utilizadas na maioria das intervenções psicológicas a problemas que manifestam sintomas de ansiedade. De igual modo, o relaxamento pode ser promotor do desenvolvimento da criança e, simultaneamente, revelar-se um factor preventivo de eventuais complicações como as já mencionadas. Para tal, os pais podem incrementar esta prática no quotidiano da criança.


Enquanto agentes modeladores do comportamento da criança, compete aos pais apoiar e orientar o processo de parar para sentir, pensar, consciencializar-se, enfim relaxar. À medida que os pais lhe ensinam modos de relaxar, a criança interioriza-os e aprende a considerá-los um recurso ao longo da vida.


O relaxamento permite à criança renovar e ampliar, mental e fisicamente, a sua energia. Ajuda-a a expandir o conhecimento de si e dos outros, aumenta a sua auto-estima e favorece a aprendizagem de modos de actuar perante situações geradoras de estresse. Desta forma, competências essenciais como; atenção, memória, auto-regulação, criatividade, resolução de problemas, consciência de si, do seu corpo, das suas sensações e emoções, capacidade de escuta e análise, entre outras, são aprendidas e/ou potenciadas, favorecendo o seu desempenho em ocasiões futuras, nos mais variados contextos. Isto é, desenvolve novos recursos emocionais e cognitivos, através do ensaio de diferentes respostas exploratórias às dificuldades sentidas.



SAIBA AJUDAR

Existem diversas práticas de relaxamento que podem ser efectuadas de forma lúdica e apelativa entre pais e filhos, sem grande complexidade. Eis as algumas ideias:


Ensine-o a respirar
O respirar de forma profunda e compassada promove uma diminuição da activação fisiológica e, consequente, distensão muscular. Use um balão ou um apito para tornar a tarefa mais aliciante. No caso de optar por um apito, a respiração deve ser lenta a ponto deste não emitir qualquer som.



Usar a distracção
Existem actividades que, só por si, podem induzir estados de relaxamento. Tais como, a leitura de um livro ou revista, pintar, escrever, andar de bicicleta, dançar, etc. Além de distrair a criança quando está tensa ajuda-a a descentrar-se das suas preocupações.


Aliviar a tensão muscular
Peça à criança que se deite confortavelmente e feche os olhos. De seguida, ensine-a a concentrar e anular a tensão numa determinada parte do corpo, percorrendo sucessivamente todas as partes. Recorra a instruções como, “Faz força no braço direito.”, “Descansa-o.” Este exercício possibilita uma descarga das tensões acumuladas.


O poder do toque
O toque das pessoas significativas reduz os índices de ansiedade e transmite uma sensação de segurança e bem-estar. Um abraço, beijo, carícia, massagem, cócegas suaves, exemplificam contactos físicos que ajudam a criança a relaxar.
Contudo, este contacto físico não agrada a todas as crianças. Assim sendo, os pais podem deixar que seja ela a tocar-lhes. Por exemplo, permitindo que ela os penteie, massaje, faça cócegas, etc.


Utilizar a música
Coloque uma música calma, ainda que de fundo, o que incita um estado de relaxamento, quer aos pais, quer aos filhos. Esta prática minimiza o estresse ligado às rotinas diárias.


Falar de emoções
Por vezes, a criança sente medo e constrangimento em expor abertamente as suas emoções e sentimentos, por se considerar diferente, o que lhe pode causar ansiedade, tristeza, zanga, etc. Proporcionar momentos de diálogo espontâneo, com a criança, acerca dos sentimentos e emoções de ambos, permite-lhe sentir alívio e aceitação, por parte dos outros.
Elabore verbalizações que expressem claramente emoções como, por exemplo, “Sentes-te preocupado com o teste de amanhã?”, “Por vezes, quando tinha a tua idade, também me sentia nervoso.”, “Ficas-te com medo por o pai estar doente?”


Descontrair pela visualização
Esta prática pode revelar-se muito útil na hora da criança ir dormir.
Mais uma vez, a criança deve deitar-se confortavelmente e fechar os olhos. De seguida, peça-lhe para se visualizar num lugar do agrado da mesma, de preferência tranquilo e familiar, como a praia ou um campo. Posteriormente, sugira-lhe que imagine sensações características desse lugar (por exemplo, ouvir o som do mar ou do vento nas árvores, sentir o sabor de um gelado). Pode ser praticada em família, sem fronteiras para a imaginação.


Relaxar a brincar
Vestir a pele de um herói, construir um castelo, ser médico, professora ou pirata, fazer um puzzle, jogar à bola ou à apanhada... Brinque com a criança.
Brincar é o meio privilegiado desta explorar, conhecer e comunicar as suas vivências interiores. Ajuda-a a relaxar e a lidar com medos e angústias próprias da sua idade, estimulando a imaginação e criatividade.



Independentemente das práticas utilizadas, a premissa é relaxar. Páre, relaxe e divirta-se com o seu filho.


Realizado por Lúcia Fernandes (Psicóloga e Psicoterapeuta) e Bruno Gomes (Psicólogo e Psicoterapeuta)